MORTE E AMOR
Vem a mim agora,
assim se fará justiça,
Pois se antes do tempo te nomeei,
E respirei teu ar na papoula e nos
músculos mais brancos do desejo, agora
Apenas em sonhos tomas minha voz e falas,
Dizes, ditas as batidas do coração
Cansado, enredado em tua memória
E me sustentas com teus suaves lábios
Com o vento dos grunhidos que penetra
Até o ventre do sexo,
juncoarremessado pela tempestade do tempo,
Eu entregue a ti e às impunes
redomas do prazer que assim se pagam
Com solidão e pranto,
com vazioe triste orfandade da alma, que já não
Tem outra morada que te mirar
nos olhos e saber que nesses calmos lagos
já vazios, estão meus mortos,
as chagas que nenhum Deus pôs em mim,
senão a ânsia de Ícaro,
de ser mais, ainda mais e abarcar tudo.
Assim foi por instantes, as miragens
ébrios o confirmam e penetram
em mim como navalhas e a água doce
torna-se opaca e rançosa entre meus lábios,
Eu, possuído pelo amor que mata,
pela morte que ama em mim
mais que o Nada pois é preferível
ao não querer, “querer o Nada”, a cega
morte que ri entre os órgãos enfermos
e entre os corpos que entrelaçados
formavam a Eternidade no tempoque se desfaz prematura
mente agora,que já não espero, que já não espero
os milagres da Sorte que são
apenas palmeiras sem dátiles nem folhas, deste
deserto obscurecido já,quando ainda minha sombra se projeta
no outro e busca amparo em umas doces
mãos que apenas são prisões, sombras
do efêmero do nada, projeções
do pássaro da Ausência que ainda
canta nos sonhos, que ainda diz nos
sonhos, amor que matas,
culmina-te em minhas horas, faz de mim
tua renúncia e renuncia a mim, como na Cruz
renunciastes a esse Outro o qual sou também
em meio a tenebrosidades, agora,
agora, enquantocanta no céu o astro que a noite
Ilumina esantifica com doces esperas e belos
aromas a alma condenada:
Esta é a hora, cumpramos o destino
que a palabra anuncia.