quinta-feira, 29 de novembro de 2007


MORTE E AMOR



Vem a mim agora,

assim se fará justiça,

Pois se antes do tempo te nomeei,

E respirei teu ar na papoula e nos

músculos mais brancos do desejo, agora

Apenas em sonhos tomas minha voz e falas,

Dizes, ditas as batidas do coração

Cansado, enredado em tua memória

E me sustentas com teus suaves lábios

Com o vento dos grunhidos que penetra

Até o ventre do sexo,

juncoarremessado pela tempestade do tempo,

Eu entregue a ti e às impunes

redomas do prazer que assim se pagam

Com solidão e pranto,

com vazioe triste orfandade da alma, que já não

Tem outra morada que te mirar

nos olhos e saber que nesses calmos lagos

já vazios, estão meus mortos,

as chagas que nenhum Deus pôs em mim,

senão a ânsia de Ícaro,

de ser mais, ainda mais e abarcar tudo.

Assim foi por instantes, as miragens

ébrios o confirmam e penetram

em mim como navalhas e a água doce

torna-se opaca e rançosa entre meus lábios,

Eu, possuído pelo amor que mata,

pela morte que ama em mim

mais que o Nada pois é preferível

ao não querer, “querer o Nada”, a cega

morte que ri entre os órgãos enfermos

e entre os corpos que entrelaçados

formavam a Eternidade no tempoque se desfaz prematura

mente agora,que já não espero, que já não espero

os milagres da Sorte que são

apenas palmeiras sem dátiles nem folhas, deste

deserto obscurecido já,quando ainda minha sombra se projeta

no outro e busca amparo em umas doces

mãos que apenas são prisões, sombras

do efêmero do nada, projeções

do pássaro da Ausência que ainda

canta nos sonhos, que ainda diz nos

sonhos, amor que matas,

culmina-te em minhas horas, faz de mim

tua renúncia e renuncia a mim, como na Cruz

renunciastes a esse Outro o qual sou também

em meio a tenebrosidades, agora,

agora, enquantocanta no céu o astro que a noite

Ilumina esantifica com doces esperas e belos

aromas a alma condenada:

Esta é a hora, cumpramos o destino

que a palabra anuncia.